sábado, 31 de agosto de 2013

A importância do brincar na constituição humana do bebê

O bebê se constitui a partir da imersão em um universo simbólico, ou seja, em uma cultura específica que é transmitida nas primeiras relações que estabelece; portanto, o bebê também se constitui nas brincadeiras. Constitui-se psiquicamente, constitui-se socialmente (Ortiz e Carvalho, 2009, p. 106).



No livro, "Interações: ser professor de bebês - cuidar, educar e brincar, uma única ação", Ortiz e Carvalho (2009, p. 104), explicam que a palavra brincar vem do latim, antepositivo brinc que é derivado de brinco, palavra esta que também vem do latim vincro, "[...] este por sua vez, é originário de vinc, antepositivo de vinculum [...]". Dessa forma, as autoras defendem o brincar como processo que contribui para criação de vínculos, para isso argumentam que 

[...] dentre os vários significados escolhemos como sinônimo de vínculo as ideias de ligar, juntar, encadear, prender, seduzir, fazer laço. Cada uma dessas palavras  nos  remete a um aspecto do brincar. Ao brincar, 0 bebê  faz laço com o mundo ao seu redor, com aqueles que ele se relacionam e com o universo cultural no qual está inserido. Ao mexer no rosto do adulto, ele enlaça uma brincadeira. Difícil dizer onde começa esse jogo, pois o bebê tocou o adulto,  porque estava interessado nele, olhando para ele. Um seduz o outro, um se une ao outro [...] (Ortiz e Carvalho, 2009, p. 104).

Apoiadas nos estudos do psicanalista e pediatra inglês, Winnicott (1982), Ortiz e Carvalho (2009, p. 105) ressaltam que todo o desenvolvimento do simbolismo na criança passa pelo brincar, por isso, explicam brevemente os quatro tempos de evolução do brincar infantil:

1º) O brincar com o corpo do outro cuidador;

2º) O brincar no espaço da ilusão, onde o outro ainda é necessário, não como corpo, mas enquanto olhar;

3º) O brincar sozinho, mas na presença de um adulto de referência;

4º) O brincar com outras crianças, que por sua vez também pode ser analisado ao longo do tempo, pois se complexifica conforme a criança cresce e se socializa.

Nesse sentido, é possível perceber que ao longo desse processo evolutivo o adulto, sobretudo, o professor exerce papel importante, o qual constitui-se o outro do bebê, ou seja, aquele que conforme indica Ortiz e Carvalho (2009, p. 105) deve:

  • acolher o bebê;
  • organizar espaços interativos os quais favoreçam o desenvolvimento e a aprendizagem;
  • organizar o tempo do bebê na creche, oferecendo diferentes oportunidades e experiências;
  • e responder às suas principais oportunidades.
Ao tratar do papel do adulto na formação do bebê, dando destaque à atuação do professor, as autoras nas palavras de Bondiolli (1998, p. 215) ressaltam que

“se o aduto é o primeiro brinquedo, o único com o qual a criança pode experimentar o seu poder, então as primeiras brincadeiras são constituídas por situações felizes, compartilhadas por adulto e criança”

Referências: Ortiz, Cisele; De Carvalho, Maria Teresa Venceslau. Interações: ser professor de bebês - cuidar, educar e brincar, uma única ação. Coleção Interações,  2009,  São Paulo,Ed. Blucher. 


quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Pega-pega ou pique pega: Informações e possibilidades

De acordo com Smole, Diniz e Cândido (2010, p. 65), o pega-pega ou pique pega é uma brincadeira tradicional que encontra-se entre aquelas classificadas como "brincadeiras de perseguição", podendo ser denominada também como "pegador".

VOCÊ SABIA?

Conforme encontramos no livro, "Brinquedos e brincadeiras" de Nereide Schilaro Santa Rosa, as crianças brincam de pega-pega desde a Idade Média, pois "[...] as antigas histórias de bruxas da Idade Média ajudaram na criação de uma das mais conhecidas brincadeiras folclóricas: o pegador ou pega-pega" (Santa Rosa, 2001, p.22).

A autora relata que sua origem remonta as antigas lendas europeias medievais nas quais a figura da bruxa estava muito presente como perseguidora de pessoas, por isso, em algumas regiões do Brasil, "[...] a criança que pega as outras no pega-pega é, até hoje, chamada de bruxa" (2001, p. 22).

Já entre as crianças africanas, que viveram no tempo da escravidão, aqui no Brasil, Santa Rosa (2010, p. 22), conta que elas gostavam dessa brincadeira, contudo não tinham menor conhecimento sobre as bruxas europeias. Desse modo, a origem africana do pegador está relacionada à uma forma imitação de como viviam os escravos fugitivos, os quais eram perseguidos por seus donos e capitães do mato, que eram pessoas contratadas para procurar escravos que fugiam.


terça-feira, 27 de agosto de 2013

Proposta Pedagógica: Organização dos instrumentos de trabalho do professor

Para que o (a) professor (a) que atua na Educação Infantil  de fato assuma sua importante função de ensinar, ou seja, atuar como um importante mediador entre a criança e o conhecimento que ela precisa ou deseja apropriar-se, é necessário que ele conheça a principio como a criança se desenvolve, bem como, identificar as necessidades de aprendizagem decorrentes do  processo de desenvolvimento infantil.

Contudo, compreendemos que o processo de desenvolvimento não é algo dado a priori, mas também pode ser determinado por influências do contexto sócio-cultural no qual se insere a criança, dessa forma, entendemos que não é possível encontrar um "manual" que caiba a toda e qualquer criança. Por isso, a avaliação e o planejamento tornam-se instrumentos fundamentais para o trabalho do professor.

Nesse sentido, Faria e Salles (2010, p.36-38) ressaltam a necessidade de a Proposta Pedagógica das IEI explicitar as formas como irão organizar o PLANEJAMENTO de seu trabalho cotidiano com as crianças, bem como, a AVALIAÇÃO delas e de seu próprio trabalho

Significa, ainda, explicitar outros instrumentos que irão viabilizar o planejar e o avaliar, entre eles, a observação e o registro, justificando essas formas de utilização de acordo com as concepções de criança, de desenvolvimento/aprendizagem e de Educação Infantil que orientam a proposta.

Ao tratar do planejamento, a Proposta Pedagógica deve explicitar como esse ocorre nas IEI: a periodicidade, os instrumentos utilizados, o papel do pedagogo nesses momentos, que aspectos são contemplados no planejamento (organização da rotina, projetos, sequência de atividades, atividades permanentes, entre outros) e como os professores se agrupam para planejar suas aulas.

Quanto à avaliação, a Proposta Pedagógica, precisa esclarecer de que modo ocorrerá: a periodicidade e os instrumentos utilizados (descritiva, objetiva - com múltiplas escolhas para que o (a) professor (a) marque aquelas que mais se assemelham as suas crianças, auto-avaliação da criança, portfólios, diários de campo, entre outros).


Para nós do CRINFANCIA, avaliar é: refletir para agir (reflexão) e, planejar é: traçar objetivos, conteúdos, estratégias e recursos (ação refletida). Entretanto, reconhecemos que esse processo é um ciclo que não se fecha, posto que, após colocar o plano em prática, o professor precisa avaliar novamente para: certificar-se de que houve aprendizagem, auto-avaliar as estratégias e recursos utilizados e planejar novamente (replanejar). Desse modo,



No texto, Planejamento na Educação Infantil: Mais que atividade, a criança em foco, de Luciana Esmeralda Ostetto, é possível encontrar importantes considerações à respeito das diferentes abordagens de planejamento até o planejamento com foco na criança, como sujeito de direito. Ao tratar do planejamento com foco na criança, percebe-se que a autora, mesmo que implicitamente, ressalta a importância do olhar, da escuta e do registro sobre a criança, para conhecer o texto clique aqui .

REFERÊNCIAS: Faria, Vitória; Salles, Fátima. Currículo na Educação Infantil: Diálogo com os demais elementos da Proposta Pedagógica. Coleção Percursos. 2010, 1ª edição, São Paulo-SP, editora Scipione.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Da tela do artista à experiência do brincar (parte 2)

A brincadeira é em si mesma um fenômeno da cultura, uma vez que se configura como um conjunto de práticas, conhecimentos e artefatos construídos e acumulados pelos os sujeitos nos contextos históricos e sociais em que se inserem. Representa, dessa forma, um  acervo comum sobre o qual os sujeitos desenvolvem atividades conjuntas [...]" Borba (2006).


Conforme publicação do dia 14/08/2013, mencionamos que as brincadeiras tradicionais as quais se configuram como produto e prática cultural, ou seja, como patrimônio cultural, estão ficando esquecidas em virtude do modo de vida contemporâneo. Dessa forma, acreditamos que a escola e a família, por serem sujeitos mais experientes da cultura, têm o papel importante de perpetuar esse acervo de brincadeiras que constituem as culturas da infância. 

E, foi pensando nisso, que nós do CRINFANCIA, mais uma vez apresentamos como dica pedagógica as obras da série "Brincadeiras de criança", de Ivan Cruz, para pesquisar juntamente com a família as brincadeiras que os adultos brincavam em seu tempo de infância, para conhecer essa atividade clique aqui.

Após a realização dessa atividade com a família, sugerimos que, você professor (a) novamente apresente as obras de Ivan Cruz (clique aqui para conhecê-las  e utilizá-las). Em seguida, faça uma tabela, listando dentre as obras apresentadas: as brincadeiras que as crianças conhecem, as que elas não conhecem e as que gostariam de aprender. 

Para que a escola e a família exerçam a função de transmitir o acervo cultural, você professor (a) poderá convidar algum familiar para ensinar aquelas brincadeiras que as crianças não conhecem e  gostariam de aprender. Também, nós do CRINFANCIA estaremos nas próximas postagens lhe ajudando nessa atividade, apresentando aqui algumas brincadeiras.

Referências: Borba, Angela Meyer. A brincadeira como experiência de cultura. In: Corsino, Patrícia. Educação Infantil cotidiano e políticas. 2009. Campinas –SP, Editora Autores Associados. 

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Proposta Pedagógica/ Organização das metodologias de trabalho

A Proposta Pedagógica, segundo Faria e Salles (2010, p. 34-35) deve esclarecer as metodologias que orientam o trabalho pedagógico, ou seja, "[...] significa refletir a respeito de formas de desenvolver o trabalho de cuidar e educar as crianças no cotidiano [...]". Dessa forma, a proposta pedagógica deve apresentar as opções do grupo de professores da Instituição de Educação Infantil quanto aos procedimentos, posturas, atitudes, estratégias e ações a serem adotadas nos diferentes tempos e espaços da instituição, revelando assim, o modo como o currículo será vivenciado na prática.

Faria e Salles (2010), apontam para a necessidade de os (as) professores (as) conhecerem diferentes formas de trabalho, para que possam fazer escolhas mais adequadas ao seu grupo de crianças e a cada situação, visto que, qualquer metodologia a ser adotada deve levar em conta as necessidades e interesses dos diferentes grupos de crianças. Nesse sentido, a escuta e a observação sobre a criança deve anteceder as escolhas metodológicas do (a) professor (a).

REFERÊNCIAS: Faria, Vitória; Salles, Fátima. Currículo na Educação Infantil: Diálogo com os demais elementos da Proposta Pedagógica. Coleção Percursos. 2010, 1ª edição, São Paulo-SP, editora Scipione.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Proposta Pedagógica/ Organização das crianças

Assim como, na organização dos tempos e espaço, a organização das crianças, também deve ser pensada sob duas vertentes, a institucional e a do trabalho cotidiano. Considerando, a vertente institucional, a Proposta Pedagógica deve explicitar os critérios e as formas de organização das crianças e, conforme orienta Faria e Salles (2010, p. 34), é necessário estabelecer também a relação numérica professor (a) e crianças. Nessa perspectiva institucional, faz-se necessário esclarecer as formas de inserção e acolhimentos dos alunos.

Já no que se refere ao trabalho cotidiano, a Proposta Pedagógica deve deixar claro como os (as) professores (as) organizam as crianças para que lhes sejam garantidos a construção: de sua identidade, de sua subjetividade, de seu sentimento de pertencimento social, de sua autoestima, de sua autoconfiança, de sua capacidade de respeitar o outro e de autuar cooperativamente. Além disso, Faria e Salles (2010, p. 35), nos chama a atenção para a necessidade de se planejar estratégias que garantam a inclusão de todas as crianças.

REFERÊNCIAS: Faria, Vitória; Salles, Fátima. Currículo na Educação Infantil: Diálogo com os demais elementos da Proposta Pedagógica. Coleção Percursos. 2010, 1ª edição, São Paulo-SP, editora Scipione.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Da tela do artista à experiência do brincar (parte 1)

Conforme nos mostra Borba (2009, p.71), a brincadeira é um fenômeno da cultura, visto que "[...] se configura como um conjunto de práticas, conhecimentos e artefatos construídos e acumulados pelos sujeitos nos contextos históricos e sociais em que se inserem [...]", ou seja o brincar e as brincadeiras fazem parte do patrimônio cultural, fruto das ações humanas transmitidas.

Contudo, esse patrimônio cultural encontra-se cada vez mais ameaçado, uma vez que, as brincadeiras tradicionais as quais priorizam o movimento corporal, as interações e a criatividade, estão gradativamente sendo substituídas por jogos eletrônicos, internet e brinquedos industrializados. Diante dessa ameaça, cabe à escola planejar experiências de ensino-aprendizagem que revitalize e assegure o lugar do brincar na infância. 

E, nós do CRINFANCIA estamos propondo uma série de atividades pedagógicas para a Educação Infantil, articulando a apreciação das obras de arte do artista Ivan Cruz com atividades em que as crianças poderão mostrar o seu acervo de brincadeiras e ao mesmo tempo ampliá-lo.

Mediante essa proposta pretendemos oferecer à você, professor (a), subsídios teóricos e práticos que lhe permita, planejar atividades nas quais as crianças de seu grupo ou turma possam participar de atividades lúdicas com o objetivo de ampliar e construir um repertório de brincadeiras e referências que compõe a cultura lúdica infantil.

Para começar, iremos conhecer a vida e a obra do artista plástico Ivan Cruz, pois, conforme apresentamos na publicação de 08 de agosto de 2013, "Apreciação de obras de arte - dicas pedagógicas", é importante que você professor(a) investigue o assunto com o qual pretende abordar com sua turma, conhecendo o contexto de produção das obras de arte e o que interessa às crianças, por isso clique aqui.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Apreciação de obras de artes com crianças - dicas pedagógicas



Barbieri (2012, p. 129-134), ao tratar da apreciação de obras de artes com crianças no livro, "Interações: onde está a arte na infância?", apresenta dicas pedagógicas importantes a serem consideradas por nós professores que atuamos na Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental.

Desse modo, ressalta a necessidade de o (a) professor (a) investigar o assunto com o qual vai trabalhar e, sobretudo, esteja atento para a investigação das crianças

[...] Por isso, perceber por meio da observação e da escuta o que as crianças já sabem e o que desejam saber, possibilita ao professor intenções claras na escolha do que (conteúdo) e do como (didática, estratégia) apresentá-lo às crianças. (BARBIERI, 2012, p. 129)

A autora destaca que não há uma correlação imediata entre nossa linguagem verbal e as obras de artes, sendo assim,  sugere que o (a) professor (a) conheçam mais obras e artistas, observando assim o mundo à sua volta.

E, ao apresentarmos uma obra de arte para as crianças, é necessário “[...] encarar essas obras, falar as imagens, falar sobre elas, dar tempo para que todos falem o que percebem, uma leitura compartilhada mais detida [...]” (2012, p. 130).

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Proposta Pedagógica/Organização e gestão do trabalho (Organização de espaços)

Considerando que na Educação Infantil o processo educativo não ocorre apenas no espaço-tempo da sala de aula, a Proposta Pedagógica das IEI devem explicitar como se organizam os espaços disponíveis.

Quanto a esse aspecto Faria e Salles (2010, p. 33), explica que o espaço deve ser tratado sobre duas vertentes, uma institucional e outra mais relativa aos espaços, equipamentos e materiais que são utilizados pelos profissionais e pelas crianças. Desse modo, sugere-se que a Proposta Pedagógica apresente como se organiza  o ambiente interno e externo da instituição. E, em relação aos espaços externos, é importante indicar outros espaços naturais e culturais existentes próximos à escola, os quais podem ser utilizados no desenvolvimento de atividades.

Faria e Salles (2010, p. 33), destacam ainda, que a organização do ambiente educativo reflete as crenças e concepções que orientam o trabalho da IEI. Nesse sentido, as autoras sugerem que:

para atender as necessidades da criança e a diversidade do currículo na Educação Infantil é imprescindível a organização de espaços com uma variedade de materiais disponíveis que permitam a escolha das crianças, as vivências corporais, a imaginação, o desenvolvimento do brincar, das demais linguagens, o contato com a natureza, a apropriação e produção de conhecimentos e a ampliação de seu universo cultural.

REFERÊNCIAS: Faria, Vitória; Salles, Fátima. Currículo na Educação Infantil: Diálogo com os demais elementos da Proposta Pedagógica. Coleção Percursos. 2010, 1ª edição, São Paulo-SP, editora Scipione.